Pertencimento no trabalho: antídoto contra a lógica da competição
Pertencimento em tempos de vínculos frágeis
No cotidiano profissional não é difícil perceber o quanto as relações de trabalho têm se tornado mais frágeis, instáveis e guiadas por uma lógica de produtividade quase ininterrupta, de modo que em meio a prazos curtos, alta rotatividade e exigências crescentes muitos trabalhadores se veem deslocados, como se fizessem parte de uma engrenagem mas não de uma comunidade. É justamente nesse cenário que a ideia de pertencimento ganha força, porque pertencer não é apenas estar presente em um espaço, mas sentir-se reconhecido, valorizado e incluído em algo maior, sendo mais do que um sentimento individual, já que constitui uma construção coletiva capaz de proteger contra o isolamento e oferecer condições para que o trabalho seja vivido com sentido.
Essa dificuldade em se sentir parte, no entanto, não se restringe ao universo laboral, pois atravessa diferentes esferas da vida e se manifesta na precariedade dos vínculos contemporâneos, sejam eles profissionais, comunitários, familiares ou afetivos, e esse enfraquecimento das relações alimenta sentimentos recorrentes de solidão e de não pertencimento que muitas vezes se traduzem em sofrimento psíquico, desde quadros depressivos de maior ou menor intensidade até a busca de saídas compulsivas, como o excesso de trabalho, o consumo de substâncias ou outros comportamentos que funcionam como tentativas de preencher a ausência de laços estáveis Mizrahi, 2017).
O pano de fundo desse fenômeno é um modelo neoliberal que, ao estender a lógica da competitividade para todas as dimensões da vida, enfraquece a confiança no outro como suporte, transformando as relações em arenas de disputa e deixando cada sujeito mais isolado em sua luta por existir em meio ao esvaziamento dos vínculos confiáveis.
É nesse ponto que o pertencimento no trabalho se revela ainda mais essencial. Quando uma pessoa não encontra apoio em vínculos consistentes — sejam eles familiares, de amizade ou profissionais —, torna-se difícil sustentar a motivação necessária para criar, inovar e se engajar de forma plena. Afinal, como manter ânimo para produzir algo que parece destinado a se perder rapidamente no fluxo incessante de novas demandas? Nesse contexto, o discurso social que exalta o indivíduo “empreendedor de si mesmo” pode soar mais como uma pressão normativa do que como um incentivo genuíno, funcionando muitas vezes como um dispositivo de controle das subjetividades, em vez de uma fonte real de potência criativa (Mizrahi, 2017).
Como as empresas podem cultivar pertencimento
Abrir espaços de fala que importam: não se trata apenas de ouvir, mas de criar condições para que cada pessoa veja sua palavra reverberar nas decisões e nas práticas cotidianas, percebendo que sua presença tem impacto real.
Reconhecer o valor que não aparece nos números: pertencer também significa ter o esforço cotidiano validado, mesmo quando não está traduzido em metas ou indicadores, já que cada gesto de cooperação sustenta a vida coletiva.
Transformar a lógica da competição em cooperação: quando as conquistas deixam de ser individuais e passam a ser celebradas como fruto de um esforço conjunto, a sensação de pertencimento se fortalece e o isolamento diminui.
Cuidar de forma estruturada, não eventual: oferecer pausas, respeitar limites e investir em saúde mental de modo consistente mostra que o cuidado é parte do trabalho e que pedir ajuda é sinal de maturidade, não de fraqueza.
Construir confiança nas relações: o pertencimento se revela no modo como se dá o feedback, na clareza ao mediar conflitos e na forma como lideranças apoiam sem sufocar a autonomia, fazendo com que ninguém precise se proteger do próprio ambiente de trabalho.
Como a Síncrona pode apoiar sua empresa
Na Síncrona acreditamos que trabalhar o pertencimento exige mais do que boas intenções, é preciso criar instrumentos de cultura que respeitem a realidade concreta de cada equipe. Nossa atuação visa integrar cuidado emocional e práticas do dia a dia, desenhando rotas de acolhimento que realmente cabem dentro da rotina de trabalho.
Se você deseja abrir essa conversa no seu time durante o Setembro Amarelo, fale com a gente — podemos construir encontros que integrem reflexão, cuidado e ação coletiva.
Se você ou alguém do time estiver em risco
Procure ajuda imediata. Ligue 188 (CVV, 24h) ou acione os canais de saúde da sua empresa. Falar salva.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
Mizrahi, B. G. (2017). Winnicott, Kohut e a teoria da intersubjetividade. Cadernos de Psicanálise| CPRJ, 39(36 jan/jun), 11-29.

