Sono e compulsão: acabamos fazendo dietas quando o que precisamos é dormir mais e melhor.
É comum ouvir que a alimentação compulsiva está ligada apenas à força de vontade, e para isso apostamos em várias estratégias lançadas pela indústria - que com um discurso sedutor nos leva a acreditar que aquela pílula mágica com cafeína para aumentar a produtividade e com cromo para diminuir a vontade do doce vai funcionar. Mas essa ideia desconsidera o impacto biológico de um corpo cansado, estressado e em privação de sono.
Na rotina de trabalho, muita gente recorre ao cafezinho o dia inteiro, usa energéticos e passa por picos de estresse a todo momento, e quando chega em casa, à noite, vai em busca de alimentos palatáveis e fáceis como os disponíveis nos fast foods. A rotina da noite, também é impactada: muito tempo em tela e mesmo estando exausto, o sono não vem com qualidade, o corpo até dorme, mas não descansa. E isso tem consequências que vão muito além da exaustão.
Um estudo realizado na Austrália com mais de 19 mil adultos jovens observou que a cada hora a menos de sono, o risco de sofrimento psíquico, como ansiedade, aumentava em 14%. Indivíduos que dormiam seis horas por noite tinham o dobro de chance de desenvolver sintomas psicológicos em comparação com aqueles que dormiam oito horas. Além disso, cada hora a menos de sono aumentava em 5% a chance de o problema se prolongar por mais um ano.
O cansaço constante também afeta a relação com a comida, dormir pouco desregula hormônios como grelina (fome) e leptina (saciedade), deixando o cérebro mais atraído por recompensas rápidas, como doces e ultraprocessados, dificultando ainda mais o autocontrole que fica sobrecarregado.
Esse impacto é ainda mais evidente em mulheres no *climatério*, fase marcada por flutuações hormonais intensas que alteram o sono, o humor e a percepção de fome e saciedade. Ondas de calor, insônia e maior sensibilidade emocional são comuns, e isso pode aumentar a busca por conforto em alimentos energéticos e ricos em açúcar.
Assim forma-se um ciclo difícil: estresse → sono ruim → mais fome emocional → culpa → mais estresse. A boa notícia é que entender esses mecanismos abre espaço para escolhas mais conscientes e cuidadosas.
Na Síncrona, unimos Nutrição Comportamental e Psicologia para apoiar a construção de hábitos saudáveis, respeitando a realidade de cada pessoa. Trabalhamos para melhorar a relação com o sono, o descanso, a fome e a produtividade com escuta, ciência e gentileza.
Se esse ciclo te faz sofrer, você não precisa enfrentar isso sozinho(a). Cuidar também é descansar.
Fonte: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2019013903656
Fusco, S.F.B. et al. Ansiedade, qualidade do sono e compulsão alimentar em adultos com sobrepeso ou obesidade.
Revezamento.esc.enferm. USP 54. 2020

